Da BBC News Brasil, em Londres
Uma mensagem postada na rede social X neste sábado , 9, pelo vice-secretário do Departamento de Estado dos EUA Christopher Landau, e recompartilhada pela embaixada americana na mesma rede, virou mais um episódio na crise entre a gestão Donald Trump e o governo brasileiro.
A mensagem ataca o que chama de "poder ditatorial" do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, afirma que ele "destruiu a relação histórica de proximidade entre Brasil e os Estados Unidos" e que o país quer "restaurar a amizade histórica com a grande nação do Brasil."
Em resposta enviada à imprensa, o governo brasileiro disse que viu "um ataque frontal à soberania" nas declarações. Já o STF não emitiu comentários.
Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República chamou o texto de "arrogante" e o classificou como "gravíssima ofensa ao Brasil, ao STF e à verdade."
Na sexta (8/8), a Embaixada dos EUA já havia postado uma advertência direta a Moraes e seus aliados, afirmando que ele é "o principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores" e que suas "flagrantes violações de direitos humanos" resultaram em sanções impostas pelo governo de Donald Trump com base na Lei Global Magnitsky.
O texto ainda alerta que integrantes do Judiciário e de outras esferas "estão avisados para não apoiar nem facilitar" a conduta do magistrado, acrescentando que Washington "monitora a situação de perto".
Após a publicação feita pela Embaixada dos Estados Unidos, o Itamaraty convocou o encarregado de negócios da representação no Brasil para uma reunião na sede da pasta, em Brasília.
Crise escalou com carta de Trump
Uma carta de Trump, endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 9 julho, se diferenciou de dezenas de outras enviadas a líderes globais que ele publicou em suas redes sociais.
Além de anunciar tarifas adicionais de 50% sobre qualquer produto brasileiro enviado aos Estados Unidos, Trump utilizou motivos políticos para justificar a imposição das tarifas, entre eles o tratamento dado pelo Judiciário do Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a empresas de tecnologia americanas, o que não aconteceu nas cartas divulgadas nos últimos dias para outros países.
A mensagem de Trump enviada aos mandatários de outros países têm entre si uma redação exatamente igual — e um tom bem mais amigável.
Em resposta, o presidente Lula deu longas entrevistas à imprensa nas quais disse que "não pode admitir" a "ingerência de um país na soberania de outro", além de criticar "a intromissão de um presidente de um país no Poder Judiciário do meu país."
Dias depois Trump anunciou ter iniciado uma investigação sobre o que chamou de práticas comerciais "desleais" do Brasil. E prometeu investigar áreas específicas na atuação do Brasil, como os serviços de pagamento eletrônico. O Pix não foi diretamente mencionado pela Casa Branca, mas o governo americano criticou supostas práticas desleais ao favorecer "serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo".
A sanção a Alexandre de Moraes
Em julho, Alexandre de Moraes foi incluido na lista de sancionados pela Lei Magnitsky, que bloqueia ativos nos Estados Unidos e proíbe sua entrada no país por alegadas violações de direitos humanos.
Moraes já estava impedido de entrar em território americano. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, já havia anunciado, em 18 de julho, a revogação do visto do ministro, seus familiares e "aliados".
A possibilidade de aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes havia sido citada pela primeira vez por Rubio em maio, em resposta ao deputado republicano Cory Mills, da Flórida.
Mills tem articulado com o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro e que está morando nos EUA.
Em 4 de agosto, Alexandre de Moraes decretou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. Segundo o magistrado, o ex-presidente descumpriu ordens restritivas anteriores e "a Justiça não permitirá que o réu a faça de tola". O ministro do STF também decretou outras medidas cautelares, entre elas a proibição de visitas e do uso de celular.