Suzano alerta para colapso no mercado global de celulose
Suzano prevê cortes na oferta após 13 meses de queda contínua
Por Administrador
Publicado em 08/11/2025 00:05
Politica
Empresa afirma que preços atuais são “insustentáveis”

Publicada por 'Luis Mauro Filho (247)

A Suzano S.A. (B3: SUZB3; NYSE: SUZ) fez um dos alertas mais contundentes sobre a situação do mercado global de celulose durante a divulgação dos resultados do terceiro trimestre. De acordo com a companhia, os preços atuais são “completamente insustentáveis”, refletindo um desequilíbrio estrutural que ameaça a sobrevivência de parte da indústria.

 

A reportagem é do site Brazil Stock Guide, que destacou as preocupações da maior produtora mundial de celulose de eucalipto. Segundo a empresa, cerca de 15% da capacidade global de produção de fibra curta opera hoje abaixo do custo de caixa, sendo os produtores europeus os mais afetados pela crise — e cortes na oferta se tornaram inevitáveis após 13 meses consecutivos de preços inferiores a US$ 600 por tonelada.

 

“O setor está sangrando há meses”

Leonardo Grimaldi, diretor do negócio de celulose da Suzano, afirmou que a situação é crítica e que “o setor está sangrando há meses”. Ele estimou que até um quarto da capacidade produtiva europeia já se tornou inviável economicamente. Grimaldi apontou ainda a alta recente no preço das cavacos de madeira na China — entre US$ 25 e US$ 40 por tonelada — como um indicativo de que os custos de insumos estão pressionando ainda mais o setor, o que forçará produtores menos competitivos a paralisar operações.

 

Embora o consumo chinês demonstre sinais de recuperação, o executivo observou que o movimento é gradual e que ainda há espaço para reajustes de cerca de US$ 20 por tonelada nos próximos meses. A Suzano projeta “ajustes mais significativos do lado da oferta” nos próximos trimestres, diante do avanço dos custos de madeira, de novas restrições ao uso de fibras recicladas na China e da falta de rentabilidade nas fábricas da Europa e da América do Norte.

 

Custos sob controle

Mesmo com o cenário adverso, a Suzano informou que continua avançando na redução de custos. O custo caixa caiu 4% no trimestre, para R$ 801 por tonelada, e já está abaixo de R$ 800 no quarto trimestre — o menor nível em anos. Segundo a empresa, o resultado foi impulsionado por menores custos de madeira e energia, ganhos logísticos e economia no uso de insumos químicos.

 

O novo contrato de fornecimento de madeira com a Eldorado Brasil deve reduzir o consumo em 4% por tonelada a partir de 2026, reforçando a meta de manter custos estruturalmente baixos até 2027.

 

Foco em disciplina financeira

O presidente da Suzano, Beto Abreu, adotou tom cauteloso durante a teleconferência, afirmando que a estratégia da companhia será “apostar em eficiência e produtividade, e não esperar por um novo ciclo de preços”. A alavancagem subiu levemente para 3,3 vezes o Ebitda, reflexo da queda nas cotações internacionais, mas a dívida líquida permaneceu estável.

 

Apesar de cerca de R$ 1 bilhão em despesas extraordinárias — incluindo a operação com a Eldorado e resgates antecipados de títulos —, a empresa gerou fluxo de caixa livre positivo. A Suzano também emitiu US$ 1 bilhão em títulos de dez anos, com o menor spread de sua história, ampliando o prazo médio da dívida para 80 meses, a um custo de 5% ao ano. O portfólio de hedge cambial pode render R$ 2,5 bilhões em ganhos de caixa até 2026.

 

Expansão e diversificação

Além da celulose, a Suzano comemorou o primeiro Ebitda positivo da unidade de embalagens, que atingiu R$ 542 milhões — alta de 11% em relação ao trimestre anterior. A fábrica de Pine Bluff, nos Estados Unidos, tornou-se lucrativa pela primeira vez, marcando um ponto de virada no negócio.

 

Executivos afirmaram que a divisão de embalagens seguirá ampliando margens e produção em 2026, apoiada pelo aumento da demanda doméstica e por melhorias operacionais na unidade de Mucuri (BA). Nos EUA, a empresa planeja expandir sua atuação em papéis para o setor alimentício, diversificando além do segmento de embalagens para líquidos.

 

Cautela com novos projetos

Abreu reiterou que o foco da Suzano no curto prazo será “extrair valor dos investimentos já realizados”, referindo-se às operações em Aracruz (ES), à parceria com a Kimberly-Clark e às unidades de embalagem nos EUA. A empresa não pretende lançar grandes projetos no momento.

 

A participação na austríaca Lenzing continuará em 15%, uma vez que as margens de celulose solúvel estão comprimidas por excesso de oferta na Ásia. A companhia apresentará uma atualização estratégica no Investor Day, previsto para segunda-feira (11) de dezembro, quando detalhará metas de redução de custos, de alavancagem e planos de integração da joint venture com a Kimberly-Clark.

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