Por Henrique Rodrigues (Revista Fórum)
A megaoperaçao desastrosa das forças de segurança pública do Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha, desencadeada nas primeiras horas desta terça-feira (28), e que até o momento resulta na morte de pelo menos 60 pessoas, entre elas quatro policiais, sob o pretexto de “combate ao tráfico”, pode ter sido uma mera cartada eleitoral do governador bolsonarista fluminense Cláudio Castro (PL).
O que despertou a atenção da imprensa foi uma declaração de Castro, totalmente descabida, açodada e fora de hora na qual o alvo de duras críticas foi o governo federal, liderado pelo presidente Lula (PT).
Ainda com homens no terreno e com uma quantidade de mortes que só aumenta a cada hora, o chefe do Executivo do Rio, responsável pela segurança pública em seu estado, assim como todos os governadores, resolveu sair com uma versão rocambolesca de que “a culpa é do Planalto” porque ações do tipo “não são de segurança urbana, mas sim de defesa” o que seria “responsabilidade das Forças Armadas”.
A Constituição Federal é clara ao atribuir aos estados a função de promover a segurança em cada ente federativo do Brasil.
“Essa operação de hoje tem muito pouco a ver com Segurança Pública. É uma operação de defesa, um estado de defesa. É uma guerra que está passando os limites de onde o estado deveria estar sozinho defendendo. Para uma guerra dessa, que nada tem a ver com a segurança urbana, deveríamos ter um apoio muito maior e, talvez até, das Forças Armadas. É uma luta que já extrapolou toda a ideia de Segurança Pública e daquilo que está na Constituição Federal, quando você tem essa quantidade de armas que vem do tráfico internacional, essa quantidade de poder bélico que vem de um financiamento feito por lavagem de dinheiro. Não é mais só responsabilidade do estado”, começou falando Cláudio Castro, num óbvio tom eleitoral e visando atingir o governo federal antes mesmo de explicar o que ele achava que aconteceria ao enviar 2.500 policiais, sem o menor planejamento, para uma zona dominada por facções do narcotráfico altamente armadas.
O que despertou ainda mais desconfiança na atitude do governador foi a versão de que ele “já havia pedido emprestado três vezes blindados das Forças Armadas”, mas que “os pedidos foram negados”. Ainda que história seja verdadeira, Castro sabe que não é assim que as coisas funcionam, pois seria necessário que essas unidades militares da União fossem empregadas sob um comando federal, numa Operação de Garantia da Lei e da Ordem, as chamadas GLOs.
“Já entendemos haver a política que é de não ceder (blindados das Forças Armadas). Falaram que tem que ter uma GLO (Garantia de Lei e Ordem). Depois, disseram que poderiam emprestar e voltaram atrás, porque o servidor que opera o blindado é federal e deveria ter a GLO, enquanto o presidente já falou que é contra a GLO”, falou Castro, atacando gratuitamente o presidente da República após uma decisão irresponsável dele próprio ao autorizar a desastrosa ação no Alemão e na Penha.
Jeito de jogada ensaiada com o bolsonarismo
Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) condenado e contando os dias para ser mandado para cumprir pena numa penitenciária, e com a extrema direita derretendo em pesquisas de intenção de voto, Castro parece ter realizado a megaoperação desorientada nos complexos do Alemão e da Penha para justamente culpar o presidente Lula (PT) pelo fracasso evidente que ele colheria.
Bastião do bolsonarismo, o Rio tem sido usado de forma corriqueira como zona de influência do antigo clã presidencial, que manda e desmanda no estado. Diante de uma crise de popularidade gritante, uma tentativa de criar problemas propositalmente para o governo federal viria em boa hora para o grupo político, que há meses tenta parir uma narrativa que atinja o ocupante do Palácio do Planalto. A segurança pública, no caso do Rio, seria o mote ideal para tal ação.