Por Julinho Bittencourt (Revista Fórum)
O renomado chef paraense Saulo Jennings, conhecido por levar a culinária amazônica a eventos internacionais, recusou um convite para cozinhar para o príncipe William durante o Prêmio Earthshot, que será realizado no dia 5 de novembro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O evento faz parte da agenda do herdeiro do trono britânico no Brasil por ocasião da COP30.
Jennings, dono da Casa do Saulo, em Belém, e responsável também pelo restaurante do Museu do Amanhã, foi surpreendido com um pedido incomum: o cardápio deveria ser 100% vegano para 700 convidados.
“Achei estranho. Perguntei se todos os convidados eram veganos ou se havia outro motivo para a restrição”, contou o chef ao F5.
Após algumas semanas de conversas e negociações com os organizadores, o paraense decidiu declinar o convite.
“Tem que ter um peixe. Você está no Brasil!”
Jennings, que já havia cozinhado para o rei Charles III em 2023 — ocasião em que serviu cordeiro e pato no tucupi —, lamentou que o novo evento não contemplasse a valorização dos ingredientes brasileiros.
“Eu faço pratos veganos há 16 anos, fui um dos primeiros no Pará a servir esse tipo de comida. Mas a questão não é sobre não cozinhar comida vegana. É sobre a valorização da nossa gastronomia, especialmente agora, na época da COP”, disse.
O chef acredita que o pedido de cardápio totalmente vegano possa refletir preconceito em relação à culinária brasileira.
“Não acredito que todos os 700 convidados sejam veganos. Acho que existe receio com a comida brasileira. As pessoas pensam: ‘Será que vou me assustar? São animais silvestres?’”, afirmou.
“Se existe uma preferência por pratos sem carne, poderíamos fazer um cardápio 80% vegano, mas tem que ter um peixe, você está no Brasil!”
“Tô fora” e missão amazônica
Nos últimos dias, Jennings viralizou nas redes sociais após a frase “Tô fora”, dita ao explicar por que recusou o convite do príncipe. Ele explica que a expressão foi usada informalmente.
“Foi uma frase de momento, dita nos corredores. As negociações duraram semanas e a recusa foi feita com respeito, gratidão e educação.”
Embaixador gastronômico da ONU Turismo, Jennings defende o papel da pesca amazônica na sustentabilidade e o impacto positivo de valorizar ingredientes regionais.
“Meu trabalho tem que ter um pouco de amazonidade. Valorizo as famílias que vivem da pesca. Tenho a missão de levar nossa comida para outros países.”
O jantar do Prêmio Earthshot, fundação criada pelo príncipe William para promover soluções sustentáveis, será assinado pela chef vegana Tati Lund. Jennings, no entanto, diz não guardar ressentimentos.
“Fico feliz que tenham escolhido uma chef brasileira. De qualquer forma, estão valorizando a nossa culinária”, concluiu.