O site de hospedagem do governo foi disponibilizado pelo governo federal na tarde desta sexta-feira, com 2.700 leitos
Apesar dos esforços de negociação com os setores hoteleiro e imobiliário, ainda não houve acordo para reduzir o valor das diárias. Anúncios a preços exorbitantes de casas e apartamentos também seguem no ar em plataformas de locação temporária.
Nesta sexta-feira, 1º, o ministro do Turismo Celso Sabino viajou a Belém a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para dar “atenção especial” ao problema da hospedagem durante a COP-30, sediada pela primeira vez na Amazônia.
Ele afirmou estar se reunindo com representantes da rede hoteleira local para firmar acordos que garantam preços justos nas diárias. A demanda do governo é que uma fração dos quartos de hotel também seja disponibilizada na plataforma oficial, com melhor preço e flexibilidade nas condições de reserva (como períodos menores).
“O governo brasileiro está garantindo toda a infraestrutura e condições para que não tenha argumento para qualquer ente internacional justificar a mudança de lugar da COP”, disse Sabino.
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-Pa) rebateu as declarações de André Lago, presidente da COP, referentes à disponibilidade e às tarifas de hospedagem para o evento a ser realizado em Belém. “É importante registrar que o embaixador encontra-se mal informado sobre o esforço do setor hoteleiro para atender às demandas apresentadas. No início de junho deste ano, a hotelaria de Belém foi oficialmente solicitada a disponibilizar 500 apartamentos destinados a delegações de países economicamente menos favorecidos, cujos custos são subsidiados pela ONU”, disse a entidade, em nota.
A crise relacionada aos preços de acomodação ofertados durante a conferência do clima da ONU na capital paraense se estende há meses e chegou a um ponto crítico com a carta assinada por 29 delegações participantes, que sugere a realização do evento ou parte dele em outro lugar se não houver garantia de acomodações adequadas e acessíveis.
O risco é que a falta de hospedagem afete as negociações e a legitimidade da COP no Brasil, caso países menos desenvolvidos, representantes da sociedade civil e de empresas não consigam participar.
Em junho, o governo federal e entidades do setor imobiliário de Belém assinaram um termo de compromisso para que corretores e imobiliárias excluam anúncios de imóveis para locação com preços abusivos e não façam cobrança de “over-price” no período da COP, sob risco de sofrer sanções financeiras, como multas.
Apesar disso, anúncios em plataformas de locação seguem exibindo preços desproporcionais.
Segundo o MTur, houve tentativa de estabelecer um Termo de Ajuste de Conduta preventivo com os setores hoteleiro e imobiliário, que foi rechaçado. Junto à Secretaria Extraordinária da COP30 e ao Serviço Nacional de Apoio ao Consumidor (Senacon), propôs-se então o termo de compromisso, que também não foi assinado pelos hotéis.
Reunião da ONU volta a discutir tema em agosto
A Secretaria Extraordinária da COP-30, subordinada à Casa Civil, informou em nota que o plano de acomodação está sendo implementado em fases, com prioridade na etapa atual para as delegações que participarão diretamente das negociações oficiais da COP-30.
Uma nova reunião da ONU para discutir as condições de acomodação, transporte, segurança, alimentação na COP-30 está agendada para o dia 11 de agosto, “com o objetivo de dar continuidade ao diálogo” sobre o conjunto de ações para a realização da conferência.
Conforme a pasta, estão disponíveis atualmente 2.500 quartos individuais com tarifas fixadas entre US$ 100 e US$ 600 e política de hospedagem foi estruturada da seguinte forma:
• 15 quartos individuais por delegação foram reservados para 73 países classificados pelas Nações Unidas como Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEIDs), com tarifas entre US$ 100 e US$ 200;
• 10 quartos individuais por delegação, com tarifas entre US$ 220 e US$ 600, foram disponibilizados para os demais países.
A secretaria reforçou compromisso “com a realização de uma conferência climática ampla, inclusiva e acessível”.
Governo atrasou lançamento de plataforma oficial
Natural da capital paraense, Sabino afirma que Belém “nunca foi sede de grandes eventos ou recebeu grandes atenções globais” e “não pode ser comparada com cidades que vivem um outro grau de desenvolvimento porque receberam investimentos históricos”.
Segundo ele, há acomodações com diárias a R$ 1.000 e os valores mais elevados não são a regra. “Outras COPs tiveram preços muito superiores”, argumenta.
O governo federal demorou a gerenciar a oferta de hospedagem em uma plataforma oficial, o que contribuiu para que parte das acomodações alcançassem preços exorbitantes em plataformas privadas. O plano inicial era que o sistema virtual já estivesse em funcionamento de março a junho, mas começou a operar com acesso restrito às delegações oficiais dos países com meses de atraso.
O ministro do Turismo destacou os investimentos de mais de R$ 4 bilhões em obras pelo governo federal na infraestrutura da cidade e afirma que quase todas, incluindo os novos hotéis, estarão concluídas antes da COP, a tempo do Círio de Nazaré, que acontece em outubro.
“A gente está fazendo todos os esforços e essa COP vai ser a melhor que a ONU já viu. Não so pela hospitalidade e estrutura, mas sobretudo pela oportunidade de os líderes discutirem a contenção das mudanças climáticas na entrada da maior floresta tropical do mundo, com conforto e segurança”, disse.
Por 'Estadão'