Quebradeiras de Côco Babaçu colhendo côco na Reserva Mata Grande. Foto: Leonardo Milani
Por Josué Moura
Essa é a realidade da Resex Mata Grande, localizada entre os municípios de João Lisboa, Amarante, Davinópolis e Senador La Rocque.
Criada em 1992 com a nobre finalidade de proteger babaçuais e garantir o modo de vida de comunidades extrativistas, a reserva se transformou em um símbolo do abandono, da omissão e da complexidade das disputas fundiárias no Brasil profundo.
Agora, com o processo de regularização aparentemente retomado pelo governo federal, o tema volta à tona, reacendendo tensões entre ambientalistas, posseiros, produtores rurais e prefeitos. Não é por acaso que uma reunião de urgência foi convocada em Imperatriz, com presença de ministro, deputados, prefeitos e entidade ligada aos ruralistas, preocupados com os desdobramentos desse processo.
Ruralistas e prefeitos se reúnem com ministro e prefeitos buscando apoio para barrar a regularização da resex Mata grande.
Mas o problema não é a existência da reserva. O problema é a maneira como ela foi — ou melhor, não foi — implementada. Durante mais de três décadas, a União não desapropriou terras, não indenizou ninguém, não estruturou as comunidades extrativistas nem garantiu qualquer tipo de manejo sustentável. E como se não bastasse o abandono, agora se tenta retomar o processo por meio de um “licenciamento declaratório”, termo técnico que para muitos soa como ameaça disfarçada.
É legítimo que os produtores rurais temam perder suas áreas produtivas. Também é legítimo que as quebradeiras de coco e associações extrativistas cobrem a efetivação de um direito que lhes foi prometido desde o governo Collor. Todos têm razão — e é justamente essa a tragédia. O Estado criou uma política pública, mas não executou. E quando tenta fazê-lo, o tempo já transformou o território num quebra-cabeça social e jurídico.
A reserva da Mata Grande poderia ser exemplo de convivência entre conservação ambiental e justiça social. Em vez disso, virou terreno de conflito, insegurança jurídica e promessas não cumpridas. É o retrato do Brasil que ainda não sabe lidar com seu campo, com sua floresta e com seu povo.
Se o governo federal quiser recuperar a credibilidade neste processo, precisa agir com transparência, escuta e responsabilidade. Não se resolve um passivo de três décadas com decretos frios ou decisões unilaterais. É preciso envolver as comunidades, dialogar com os produtores, ouvir prefeitos e encontrar uma solução que preserve o meio ambiente sem destruir vidas.
Caso contrário, a boiada continuará passando — e não serão apenas árvores que cairão, mas também a confiança em qualquer promessa de conciliação entre o verde e o justo.